Odorico queria ser prefeito de sua cidade. Você vai ver como foi um dos comícios desse candidato, lendo um trecho da peça Odorico, o bem - Amado escrita por Dias Gomes.

Odorico, O Bem - Amado  Personagens: Chico Moleza               Popó Demeval                                                Dudu Mestre Ambrósio                                               Dirceu Borboleta Pedrão                                                  Velho Funcionário Chiquinha dos Padres                                                   Maneco Pedreira Odorico                                                 Vigário Lenilda                                                  Ordovino Cotinha                                                 Bebeto  Ação: Numa Ilha do Litoral Baiano Época: 1960  Odorico - Meus conterrâneos: essa situação não pode continuar. Esta cidade precisa ter seu cemitério.  Todos - Muito bem! Apoiado  Cotinha - Uma cidade que não respeita seus mortos, não pode ser respeitada pelos vivos!  Odorico - Diz muito bem D.Cotinha Monção, dedicada professora do nosso Grupo Escolar; é incrivel que esta cidade, orgulho do nosso Estado pela beleza de sua paisagem, por seu clima privilegiado, por sua água radioativa, pelo seu azeite-de-dendê, que é o melhor do mundo, até hoje ainda não tenha onde enterrar seus mortos. Esse Prefeito que ai está...  Cotinha, Dudu e Popó - (Vaiam.) Uuuuuu!  Odorico - Esse Prefeito que ai está, que fez até hoje para satisfazer o maior anseio do povo desta terra?  Velho Funcionário - Só pensa em construir hotéis para veranistas!  Dudu - Engarrafar água para vender aos veranistas!  Odorico - Tudo para os veranistas - pessoas que vêm aqui passar um mês ou dois e voltam para suas terras, onde, com toda a certeza, não falta um cemitério. Mas aqui também haverá! (Vendo que as atenções foram desviadas de sua pessoa, grita.) Aqui também haverá um cemitério!  Popó - (Grita histericamente.) Queremos o nosso cemitério!  Continha, Dudu, e Velho Funcionário - Queremos o cemitério! Queremos o cemitério!  Odorico - E haveremos de tê-lo. Se eleito nas próximas eleições, meu primeiro ato como Prefeito será ordenar a construção  imediata do cemitério municipal.  Todos - (Aplausos.) Muito bem! Muito bem!  Uma faixa surge no meio do povo: Odorico - Bom governante, minha gente, é aquele que governa com os olhos no futuro. E o futuro de todos nós é o campo santo.  Velho Funcionário - O campo santo.  Dudu - Que homem!  Dirceu - (Repreende-a.) Tenha modos!  Odorico - É preciso garantir o futuro, pra ter paz e tranquilidade no presente. Quem é que pode viver em paz, sabendo que depois de morto vai ter que viajar três léguas pra ser enterrado?  Chiquinha - É mesmo um pecado!  Odorico - Uma vergonha! Mas eu, Odorico Osório, vou acabar com essa vergonha.  Mestre Ambrósio - Seu Doutor me desculpa, mas desde pequenininho que eu escuto falar nessa história de cemitério. E a coisa fica sempre na conversa. Todo mundo acha que deve fazer, mas ninguém faz.  Pedrão - Lá isso é.  Odorico - Mas eu vou fazer. Os que votaram em mim para vereador sabem que cumpro o que prometo. Prometi acabar com o futebol no largo da igreja e acabei. Prometi acabar com o namoro e a sem-vergonhice atrás do Forte e acabei. Agora prometo acabar com essa humilhação para a nossa cidade, que é ter que pedir a outro municipio licença pra enterrar lá quem morre aqui. E vou cumprir.  (Gomes, Dias. Teatro de Dias Gomes, Rio de janeiro,Ed. Civilização Brasileira, 1972 p.357-59)